Minha relação com psicologia veio muito antes de estudar e ser psicóloga. Ela começou na sala de terapia quando eu era criança de cinco anos.
O mais engraçado é que em uma época de “psicologia é coisa de doido”, minha tia acreditou na necessidade da terapia infantil naquele momento: tinha perdido meus avós com quem eu morava e de quebra, mudei de cidade. Muita mudança para uma criança que não sabia direito nem o que era morte.
Não lembro exatamente o que fazia ou falava por lá, mas algumas coisas me marcaram, como a lembrança de esperar ansiosamente pela hora de brincar: falava da escola, dos amigos, da minha tia, das coisas que eu pensava e aí, nos últimos vinte minutos podia escolher qualquer brinquedo no armário. Sempre escolhia aquele jogo de pega varetas ou a massinha para criar balanços e escorregadores, fazer letras, números, discutir como o número quatro de cabeça pra baixo virava uma cadeira.
Se a minha psicóloga estava trabalhando algum comportamento problema eu não vi, devia ser muito sutil, porque o que me interessava mesmo era brincar, vai ver as demandas estavam lá escondidinhas na brincadeira e eu nem percebia.
Lembro de contar um segredo pra ela e fiquei com medo dela contar para os adultos. Depois de um tempo; não imaginava a psicóloga como uma adulta, estava mais para uma fada. Confiei no dito cujo sigilo e me senti ‘A Importante’ quando ela pediu a minha autorização para falar para os adultos aquilo que eu tinha dito.
Quando parei de ir, senti falta, não lembro muito bem das últimas sessões, mas a terapia quando criança já começou a moldar o meu significado de cuidado e autocuidado além de eu aprender que existem essas pessoas meio fadas que estudam para ajudar outras pessoas a terem uma vida boa de se viver.
Por tudo isso, sigilo é primordial para a construção de uma relação de confiança e acolhimento. As demandas e os objetivos terapêuticos serão trabalhados o tempo todo, todo o tempo, dentro de tudo que a criança faz, na brincadeira, na imaginação, na história, no desenho, e pra isso, horas e horas de planejamento.
O mais importante: terapia pra criança tem que ser, na maior do tempo, divertida!
Isabella