Desde criança sempre quis ser dentista. Eu adorava ir às consultas. Achava a sala de espera divertida, esperava ansiosa pelo presentinho que podia escolher ao fim do atendimento. Aquele cheiro característico do consultório odontológico era muito gostoso pra mim, e o fato de eu sempre ganhar sorvete após a extração de um dente (tive de extrair vários) tornava o processo ainda mais prazeroso.
Já no Ensino Médio tive um professor queridíssimo de biologia que era dentista. Em suas aulas, ele contava várias histórias indigestas sobre seus atendimentos clínicos no período da faculdade. Foram narrativas que me colocaram em contato com realidades da vida de um cirurgião-dentista as quais eu nunca havia imaginado, já que estavam muito além da minha experiência mágica quando criança. Percebi que eu jamais conseguiria ser dentista.
Nesse momento, me deparei com um vazio. O que eu faria da minha vida? Eu tinha amigos e amigas com dons e interesses distintos, e cada um se identificava com um curso. Tinha o amigo designer, a amiga advogada, o amigo agrônomo, a futura médica… mas eu já não sabia mais o que seria. Ao tentar avaliar minhas aptidões e habilidades, percebi que eu levava jeito com… gente!
Conversar, escutar, acolher e ensinar eram alguns de meus pontos fortes. E todos ao meu redor concordavam com isso. Sempre me vi rodeada de pessoas, com as quais tive relações muito positivas. Era todo tipo de gente, de todas as idades, níveis sociais e grupos. Percebi que era aí que estava o meu futuro. Pesquisei sobre o curso de Psicologia e percebi que era perfeito pra mim, pois me possibilitaria sempre estar em contato com pessoas, saber sobre elas e, principalmente, fazer alguma diferença positiva em suas vidas.
Após dois processos de orientação profissional com psicólogas, veio o veredito. Eu seria psicóloga. Vinte anos se passaram dessa tomada de decisão, feita em 2001. Desde lá, foi uma graduação, uma especialização, um mestrado, um doutorado, mais uma especialização em andamento, muitos cursos, formações, congressos e workshops. Somados a tanto estudo, vêm os 14 anos de prática clínica. São milhares de horas de atendimento, muita experiência, muitas histórias, e o amor pela psicologia e pelas pessoas só aumenta.
Foi assim que cheguei aqui! Hoje tenho a clínica que sempre sonhei, trabalho com um público maravilhoso e sou muito realizada em minha profissão. E a odontologia? Pasmem, minha irmã tornou-se cirurgiã dentista e atende na sala ao lado. Quem disse que eu não sentiria todos os dias aquele “cheirinho de dentista” que marcou minha infância?
Mariana