“Uma vez tive uma amizade que foi muito boa por muito tempo, mas um dia aquela pessoa me magoou profundamente. Decidi então que não devo confiar nas pessoas, ser vulnerável ou me expor a relações, pois isso seria pedir para sofrer novamente”.
Essa frase fictícia resume uma experiência muito comum em pessoas que procuram psicoterapia: o medo e evitação de experiências julgadas como negativas. Medo de sentimentos, pensamentos e sensações. Em outras palavras: o medo de sofrer.
Parece que, em situações difíceis, a atitude mais favorável é a de evitação – da situação e dos pensamentos e sentimentos incômodos que a acompanham. Por exemplo, uma situação social desconhecida pode ser evitada por uma pessoa que tem problemas para se relacionar com os outros.
Porém, essa evitação, que produz uma alívio imediato (não traz vergonha, medo, insegurança…), pode se tornar problemática. Aprendemos que evitar funciona e, assim, podemos começar a fugir de tudo o que imaginamos que pode nos fazer sofrer. Assim, passamos a diminuir nosso contato com o mundo.
Aquela reunião entre amigos, aquela entrevista de emprego ou aquela apresentação de trabalhos, que são muito difíceis e igualmente importantes, parecem eventos insuperáveis, tamanho o sofrimento de apenas pensar nessas situações. Então evitamos sequer pensar nelas, pois o pensar também causa sensações incômodas parecidas.
Assim, aos poucos, deixamos de nos comportar, de nos engajar no mundo, como se ficássemos dentro de um potinho. Os comportamentos usados para evitar sofrimento acabam, paradoxalmente, nos fazendo sofrer, pois não permitem que vivamos o que a vida nos traz de bom. Afinal, dentro do nosso potinho não cabe mais nada e nem ninguém.
Você já reparou que, em nossa cultura, há uma supervalorização da felicidade e da positividade? É tanto que chega a ser tóxico! Somos ensinados a perseguir sentimentos tidos como bons e fugir e julgar sensações tidas como ruins, e isso faz com que evitemos cada vez mais nosso contato com o mundo.
Na Psicologia Comportamental, existe um modelo de psicoterapia chamado de ACT – Terapia de Aceitação e Compromisso. A ACT nos ensina o movimento contrário ao da evitação: devemos nos aproximar e vivenciar os nossos pensamentos e sentimentos, incluindo os que consideramos negativos – afinal, sofrer faz parte da vida. Se você tem algo ou alguém com o qual se importa, se é uma pessoa de valores e se tem um propósito na vida, com certeza irá enfrentar sofrimento. Afinal, é impossível amar e viver uma vida de acordo com o que importa é complexo, e irá nos expor a todo tipo de situação, pensamento e sentimento.